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Para que Arte? – Comentários de James Gurney & O Movimento Estético

Há alguns meses eu li um artigo (ou melhor, um post) no blog do ilustrador James Gurney, escrito por ele, que falava sobre a filosofia de Nicolas Chernyshevsky sobre a Arte. Nicolas Chernyshevsky foi um pintor russo que viveu no século XIX, que escreveu um ensaio importante chamado "As Relações Estéticas da Arte à Realidade", que influenciou muitos artistas do período. Basicamente, este ensaio foi uma espécie de manifesto do Movimento Realista russo e do "Movimento Estético", e foi uma influência particularmente significativa em seus líderes, como Ilya Repin, Ivan Shishkin e Kramskoy. Assim, em seu blog, Gurney falou sobre como os pintores realistas russos defendiam a importância para as artes de se estudar a realidade. No fim, o post foi uma espécie de um argumento para Realismo. Eu, na verdade, pretendo usar a postagem do blog de Gurney como um tópico para outro argumento em favor do Realismo, em outra oportunidade, mas, neste artigo, usarei algumas afirmações interessantes do post para falar sobre a importância da própria arte.

James Gurney escreveu:

"Em relação à pergunta "qual é o propósito da arte?", Tolstoi é bastante claro em sua definição de arte que a finalidade da arte é criar um meio para o artista transmitir uma emoção verdadeiramente sentida a um outro ser humano, e assim expressar sentimentos de fraternidade. Pela maneira que ele descreve, torna-se um propósito bastante universal que está acima de quaisquer filosofias políticas ou estilos de vida. Mas Tolstoi, e talvez Chernyshevsky e Stasov e outros intelectuais russos da época, pareciam ser contra criações altamente artificiais, como Óperas teatrais."

"Alguns trechos de Chernyshevsky:

• A finalidade essencial da arte é reproduzir o que é de interesse para o homem na vida real.

• A realidade é superior aos sonhos.

• A arte expressa uma idéia, não através de conceitos abstratos, mas através de fato real e individual.

• Uma reprodução deve, na medida do possível, preservar a essência do objeto reproduzido; portanto, uma obra de arte deve conter o mínimo de abstratismo possível."

Estes artistas tinham uma bela idéia sobre o propósito da arte, mas eram, de fato, pode-se dizer, limitados, pela a idéia de que a arte e a realidade devem estar sempre intimamente interligadas. Eu concordo com eles, até certo ponto. Concordo em termos de técnica - que uma obra de arte deve ser baseada na natureza e, portanto, parecer 'real' -, mas eu acredito que a arte pode expressar idéias abstratas e sentimentos profundos da mente humana, que simplesmente não são necessariamente ligados ao nosso senso de realidade.

Gurney continua:

"Os escritos de Asher Durand falam sobre o propósito de uma pintura ser uma espécie de janela para outro mundo, que pode dar prazer a uma pessoa ao final de sua jornada de trabalho. Uma pintura poderia, por exemplo, levar o espectador de volta às memórias de sua infância. Durand expressa de forma muito bonita as alegrias de se admirar uma imagem, misturando suas idéias com uma reverência para o aspecto divino da natureza, comparando a ir-se à igreja, exceto que o santuário é a própria natureza."

E eu, Rafael, concordo com Durand. Então, esses artistas que Gurney menciona, estavam falando sobre a importância do realismo, mas, de todo jeito, as suas afirmações a respeito do propósito da arte são, para mim, notáveis. Mesmo que possa soar como uma desculpa para o Realismo. Para mim, essas afirmações são argumentos para a Arte em si. Mas, para mim, a arte deve ‘melhorar’ a natureza - em uma determinada imagem -, e criar beleza, de uma maneira que fala para o público, fazendo com que o público se conecte com um determinado tema ou mensagem. Mesmo que isso signifique se afastar, um pouco, da realidade.

De todo jeito, eu termino com este parágrafo escrito por James McNeill Whistler, a respeito do Movimento estético, que, novamente, mesmo soando como uma desculpa para o Realismo, é também um grande argumento para a Arte em si.

"A natureza contém os elementos, em cor e forma, de todas as imagens, como o teclado contém as notas de todas as músicas. Mas o artista nasce para escolher, e agrupar com ciência esses elementos, resultando na construção de algo belo - como o músico reúne suas notas e forma suas cordas, até transformar o caos em gloriosa harmonia. Dizer ao pintor que a natureza deve ser tomada como ela é, é dizer ao músico que ele pode usar o piano como uma cadeira. Que a Natureza está sempre correta, é uma afirmação, artisticamente, tão falsa, quanto uma pessoa que não enxerga o fato de que não existe verdade absoluta. A natureza está muito raramente correta, a tal ponto, que quase pode-se dizer que a Natureza está, normalmente, errada; ou seja, uma condição ideal para a existência de perfeita harmonia na natureza, que seja digna de ser reproduzida em uma imagem é rara, e de maneira alguma, algo comum.” Tirado de The Gentle Art of Making Enemies, por James McNeill Whistler, 1894, pg. 142-143.

Então eu acho que ele quer dizer que temos a nossa obrigação de criar beleza, para embelezar o nosso mundo, ainda mais do que ele já é.

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